|
Teatro Colón: chegando pela 9 de Julio
|
|
A chegada à Cazuela com menos glamour |
|
O espetáculo da sala principal |
|
Araña: o lustre principal |
"Mãe, bailarinas existem de verdade?", perguntou minha filha do alto dos seus quatro anos, quando eu avisei que estava indo ao teatro assistir a um balé. E aí meu coração apertou. Eu deveria ter levado ela também. E relembraria os meus bons tempos de menina em que eu ia com minha mãe ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro me encantar com a Ana Botafogo no Lago dos Cisnes, em Copélia ou no Quebra-Nozes. Também assisti ali a Julio Bocca, ao Béjart e ainda ao Bolshoi, quando minha avó me deu de presente duas entradas no Balcão Nobre, um belo
upgrade para quem geralmente ficava um andar acima, no Balcão Simples. Adorava subir as escadas pelo tapete vermelho, ficar olhando para o imenso lustre enquanto as luzes não se apagavam, aguardar a hora certinha de aplaudir para não atrapalhar a entrada do próximo passo, e esperar a Ana Botafogo entrar em cena com seus longos braços que mais pareciam as plumas de um cisne.
Meu objetivo agora era ir ao
Teatro Colón, reinaugurado neste ano depois de uma longa restauração. Neste fim de semana estava em cartaz a última apresentação do Ballet Estable do Colón com a Orquestra Filarmónica de Buenos Aires. O espetáculo tinha duas horas de duração. Ao comprar o ingresso por telefone, a moça informou que eu poderia levar criança, mas que se ela começasse a chorar, eu seria convidada a sair na hora. Achei que não seria prudente gastar o dinheiro e correr o risco de ser "convidada" a sair nos primeiros quinze minutos. E deixei a pequena em casa.
Meu ingresso custou 226 pesos para uma cadeira na primeira fila da
Cazuela, o equivalente à Galeria do Municipal do Rio, que fica no terceiro andar. No entanto, no Colón, há mais dois andares acima deste e o Paraíso, bem lá encima, perto do céu mesmo. Para os lugares mais altos (e mais baratos!), como o meu, a entrada é pela rua lateral, o que diminui bastante o
glamour para quem vai pela primeira vez ao teatro. Mas, ao entrar na sala principal, a surpresa é inevitável. A cortina, o lustre, a arquitetura... grandioso e belo! A moça informa incansavelmente que não é permitido tirar fotos ali, mas que a gente poderia descer para o salão de entrada, aquele com a escada de tapete vermelho a que não tivemos acesso quando chegamos. E lá fui eu, vários lances de escada abaixo explorar mais um pouco o teatro. O resto deixei para uma visita guiada, que anunciam para breve no
site.
O espetáculo foi bonito.
Variaciones Donizetti e
Tema y Variaciones com sapatilhas de ponta e tchu-tchu. E depois
Séptima sinfonía, ainda com sapatilhas de ponta mas sem a saia rodada. Havia crianças na plateia. Meninos e meninas. Mas deviam ter uns dez anos. Impossível não relembrar momentos da minha infância. Impossível também eu não comparar os dois teatros. Construídos na mesma época, as poltronas, o lustre principal, a minuciosa restauração, e a reabertura quase ao mesmo tempo. O Colón é considerado um dos melhores teatros do mundo, reconhecido por sua arquitetura e acústica, e nitidamente maior que o do Rio, ainda que, pelos meus olhos de menina eu achasse o Municipal enorme. Mesmo assim, fiquei com a sensação de que aqui faltou alguma coisa. Acho que estava esperando a Ana Botafogo entrar no palco. E a minha pequena sentada ao meu lado!
Fotos: de Buenos Aires para Niños